QUARESMA, TEMPO OPORTUNO, TEMPO DE CONVERSÃO

A Liturgia Cristã Católica é vivida no tempo e, mais do que isto, celebra o tempo. Dias (em especial o Domingo), ciclos que reúnem domingos, dias de Solenidades, Festas e Memórias do Senhor, da Virgem Maria e dos santos são celebrados. Celebramos o dia, o tempo, e nele, no tempo, encontramo-nos com o Senhor através de nossas celebrações.

Pois bem, a Quaresma é um tempo, tempo de quarenta dias que deve ser celebrado e vivido como oportunidade de encontro com o Senhor. Experimentaremos melhor este tempo se compreendermos melhor o seu sentido. Então qual o sentido da Quaresma?

A Quaresma é tempo de preparação para a Páscoa do Senhor e, nela, preparação para a nossa páscoa. Então para compreendermos o sentido da quaresma devemos compreender o sentido da Páscoa.

E qual é o sentido da Páscoa?

A Páscoa de Cristo é a plenificação da sua missão. Jesus é Deus feito humano para reconduzir os homens e mulheres para Deus. Toda a vida de Cristo é Revelação da eterna vontade de Deus com relação à humanidade, e esta vontade é que nós vivamos em comunhão com Ele. Esta realidade querida por Deus foi descrita na imagem do Paraíso, foi anunciada por Jesus como o Reino de Deus, realidade que nos é apresentada como Salvação. Salvação é a comunhão com Deus. O Paraíso, o Reino e a Salvação, portanto, a comunhão com Deus, foram e são rejeitados pela humanidade por causa da sua desobediência, pela sua atitude de ocupar o lugar de Deus, esta atitude fundamental a chamamos de pecado.

Cristo deparou-se o tempo todo com esta realidade de pecado, lutou contra ela, denunciou-a, perdoou os que a viviam, libertou muitos de sua escravidão e ensinou o caminho da Graça, da Salvação, do Reino, enfim o caminho da Vida Plena, da Vida em abundância. Contudo o pecado havia atingido ontologicamente a humanidade e só um homem sem pecado seria capaz de libertá-la desta realidade de morte. Assim diante da eminência da Cruz, provocada pela perseguição das autoridades religiosas e políticas de seu tempo, Jesus se encontra mais uma vez com a vontade do Pai e esta era que ele, na cruz, oferecesse sua vida em sacrifício expiatório para a libertação do pecado.

Ele, então, se entrega à morte por amor a humanidade. Quem viveu por amor deve morrer por amor, quem anunciou a vida, morre pela vida. Quem se encarnou para revelar a vontade salvífica do pai, morre para salvar-nos, redimindo-nos, lavando-nos do nosso pecado com seu próprio sangue. Na cruz, assim, Cristo vence o pecado, derrota a morte. Na cruz brilha a luz da Graça. Na cruz a humanidade se une plenamente a Deus. Cristo vence. Na cruz resplandece a Glória do Homem e a Glória de Deus. Esta vitória é testificada pela ressurreição de Cristo. A ressurreição é a prova cabal de que o Pai aceitou o sacrifício do Filho e, nele, abriu as portas da eternidade, as portas da sua casa para que pudéssemos, libertados, viver aqui e na vida futura a comunhão com Ele.

Páscoa é isso, é vida, é graça, é vitória sobre o pecado, é luz e glória. Celebrar a Páscoa é experimentar esta nova realidade, é ser livre, é viver já neste mundo as realidades futuras. Celebrar a Páscoa é vive-la como verdadeira passagem do pecado para a Graça, do anti – Reino para o Reino, das trevas para a luz, passagem da morte para a vida. E esta passagem-páscoa deve acontecer no íntimo de cada indivíduo, nas suas relações com o mundo e com os outros, nas estruturas sociais criadas sobre bases pecaminosas. É vida nova em todas as dimensões.

Como viver tudo isto na Páscoa com verdade? É preciso nos prepararmos bem. Esta preparação é a Quaresma, é vivida na Quaresma.

Celebrar, viver, experimentar a Quaresma é decidirmos por uma real mudança de rumo, que chamamos de conversão. Como ressuscitar com Cristo sem abandonar a vida de pecado?

A Igreja Mãe e sábia nos oferece um tempo oportuno para isso, este tempo é a Quaresma. Nela somos convidados ao jejum, à penitência, à oração intensa, ao arrependimento e confissão de nossas culpas.

Nela somos convidados à fraternidade, a mudarmos nossas relações destruídas pelo egoísmo, pela arrogância, pela maldade.

Nela somos convidados a colaborar para a destruição das estruturas sociais que conduzem à morte e a construirmos uma nova realidade estrutural que promova a vida.

Para esta caminhada desafiadora rumo à Páscoa nos ajuda a Graça de Deus, ajuda-nos a Palavra meditada e refletida com sinceridade, ajuda-nos a Eucaristia, pão que sacia, fortalece e cura, ajuda-nos o sacramento da penitência. Enfim, não estamos sozinhos. Com Deus podemos tudo, sem Ele nada conseguiremos. Já somos livres, nada nos impede, basta fazermos a escolha certa, a escolha pela vida, pela Luz, pela Graça, pelo Reino, pela Salvação.

Caminhemos! Aproveitemos bem este tempo santo! É tempo oportuno. É tempo de conversão.

Uma santa e profícua Quaresma para todos!

Pe Mauro Ferreira
Pároco
Paróquia Nossa Senhora da Escada