O Serviço Pastoral dos Bispos

O Serviço Pastoral dos Bispos

No último domingo (dia 20 de Julho de 2014) pudemos participar de uma bela e solene Celebração Eucarística, na qual tomou posse como Bispo da Diocese de Osasco, Dom Frei João Bosco. Tudo o que vivemos naquele momento nos deixou entusiasmados e esperançosos, enriquecidos na fé e na caridade.

A PASCOM Paroquial pediu que eu escrevesse nesta minha coluna mensal sobre a posse. Preferi não fazê-lo como um relato jornalístico, mas como uma reflexão a respeito do papel do Bispo, como membro do Povo de Deus, como servidor do rebanho do Senhor, como Pai, amigo e Pastor.

Quem é o Bispo? O que faz o Bispo? Como se faz um Bispo? Qual a relação do Bispo com os outros Bispos, com os padres, com os religiosos e religiosas, com os leigos e leigas e com o Bispo de Roma, o Papa?

Obviamente não farei um tratado sobre o assunto, mas algumas reflexões, sobretudo com o objetivo de acolhermos melhor nosso novo Bispo, entendendo seu serviço em nosso meio. Para tanto reli o Decreto “Christus Dominus” (CD) sobre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja.

Para iniciar, acredito ser importante lembrar o que é uma Diocese, pois é nela, principalmente, que os Bispos exercem sua função. Não há Diocese sem Bispo.

“Diocese é a porção do Povo de Deus confiada a um Bispo para que a pastoreie em cooperação com o presbitério, de tal modo que, unida ao seu Pastor e por ele congregada no Espírito Santo, mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitua uma Igreja Particular, na qual verdadeiramente está e opera a una, santa, católica e apostólica Igreja de Cristo” (CD 11).

Então, Diocese é uma porção do Povo de Deus, geralmente circunscrita num território. Nossa Diocese, por exemplo, reúne os discípulos de Cristo (todos os batizados) que vivem em 13 municípios, de Osasco a Alumínio, ou que aqui estejam por qualquer motivo. Todos nós, formamos e somos aqui a verdadeira Igreja de Cristo. Somos o seu Corpo e ele é nossa Cabeça, porém não basta sermos cristãos e morarmos no “território” diocesano. Para sermos Diocese, é preciso que tenhamos um Bispo, é ele quem garante nossa condição de membros de uma Diocese. É interessante notar que o Concílio Vaticano II, resgatou o conceito de Igreja Particular (Diocese), lembrando-nos que na Igreja Particular está a Igreja de Cristo, portanto a Diocese não é uma quase Igreja, uma filial da sede da Igreja (a Diocese de Roma), mas aqui está a Igreja que, evidentemente, se une a outras Dioceses e em perfeita comunhão com o Bispo de Roma (o Papa) manifesta a catolicidade de toda a Igreja.

Quando uma Diocese é criada para atender às necessidades pastorais do Povo de Deus, ou quando a sede fica vacante (cadeira, cátedra vazia), seja pela morte do Bispo, seja pela sua renúncia aos 75 anos, ou por motivo grave que o impessa de exercer sua função (como doença), a Santa Sé inicia um processo de escolha de um novo Bispo, que pode ser um Bispo de outra Diocese a ser transferido, ou um padre, que ordenado Bispo, assume esta função. O processo começa em Roma e é encaminhado pela Nunciatura Apostólica no país onde está a Diocese. São feitas consultas aos Bispos (geralmente os mais próximos), a alguns padres, a religiosos e religiosas, e não raro, a leigos e leigas. De todos os nomes apontados, a Nunciatura encaminha à Congregação para os Bispos uma lista de nomes, que depois de apurada avaliação é apresentada ao Papa que faz a escolha e nomeia o novo Bispo. É bonito todo este processo, pois, renova a antiga tradição de escolha do Bispo pelos membros da Igreja local (vide escolha de Santo Agostinho como Bispo de Hipona por aclamação do povo em praça pública) e preserva a unidade da Igreja na obediência à autoridade da Igreja de Roma.

Quem é o Bispo?

Sacramentalmente é um homem que recebeu a ordenação Episcopal, o terceiro grau do sacramento da Ordem (Diaconado, Presbiterado e Episcopado) a quem “se confiou o especial cuidado de uma Igreja Particular, sob a autoridade do Romano Pontífice, e que apascenta como seu pastor próprio, ordinário e imediato, as ovelhas em nome do Senhor, exercendo sobre elas o múnus de ensinar, santificar e reger” (CD 11). O Bispo faz parte do Povo de Deus, a propósito permita-me fazer uma observação: às vezes (eu mesmo já cometi este equívoco) quando saudamos os presentes dizemos seja bem vindo o Bispo, os padres, os seminaristas, as religiosas e o Povo de Deus, como se só os leigos fossem o Povo de Deus. Não! O Povo é toda a Igreja na diversidade dos ministérios e carismas. Todos os batizados constituem o novo Povo de Deus, reunidos pelo Espírito Santo em Cristo. Se assim não fosse, se só os leigos fossem o Povo de Deus, os outros seriam Povo de quem? Feita esta despretensiosa observação, voltemos ao Bispo. Sua missão é sublime, cuidar do rebanho do Senhor. É pastor. O que exige sabedoria, acuidade, zelo, dedicação, misericórdia, voz firme e doce ao mesmo tempo, capacidade de dialogar e de decidir, conhecimento, propriedade na organização pastoral e administrativa, piedade, espiritualidade profunda e muito mais. Por isso, ser bispo não é fácil, aliás é muito difícil. Assim, só pela Graça de Deus alguém pode exercer este tão digno serviço. Inclusive, todas as lideranças do Povo de Deus devem assumir sua função como serviço. Dos “títulos” assumidos pelo Papa, considero o mais bonito o “Servus Servorum Dei” (Servo dos Servos de Deus). Quando a mãe dos filhos de Zebedeu pediu um lugar de destaque para seus filhos Tiago e João, Jesus disse: “Vós sabeis que os chefes das nações tem poder sobre elas e os grandes as oprimem. Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor…pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate em favor de muitos” (Mt 20, 25-28). Se Cristo, o Senhor, fez-se servo, como não fazermos o mesmo?

O Bispo é sucessor dos Apóstolos, histórica e teologicamente. Como tal, tem a missão de santificar, ensinar e governar o rebanho. Este é o seu serviço, como disse: tão grande, bonito e árduo. Por isso, não só nas missas, mas em nossas orações pessoais e comunitárias devemos rezar por nosso Bispo, apoiá-lo e obedecê-lo.

O Decreto Christus Dominus destaca como deve ser as relações do Bispo. Com relação ao Papa, o Bispo deve obediência e fidelidade. Quando convocado deve colaborar com o sucessor de Pedro, seja pessoalmente, seja nos Sínodos (reunião dos Bispos), seja respondendo a consultas, mas acima de tudo, com filial amizade e digno respeito. De cinco em cinco anos deve apresentar a Cúria Romana e ao Papa um relatório de sua Diocese, ouvir as orientações e apresentar a realidade local, até como enriquecimento para as decisões a serem propostas para as igrejas particulares do mundo todo.

Com relação aos outros bispos, o espírito é de colegialidade, de comunhão. Seja na Arquidiocese (que reúne um número de Dioceses), seja nas Conferências Episcopais ou Continentais, seja quando se reúnem Bispos do mundo todo. Apesar de, na Diocese estar a Igreja, ela não é uma ilha, por isso deve estar em comunhão com outras Dioceses, atualizando as decisões comuns dos Bispos, e da Sede Romana, aplicando, segundo as características locais, o que todos decidiram juntos, sejam em decisões conciliares como de assembleias continentais e nacionais, salvaguardadas as devidas diferenças.

Eu que já pude participar de encontros de regionais e da CNBB, sou testemunha do ambiente de amizade, de colaboração e de unidade entre os Bispos.

Com relação ao clero, o Decreto afirma que o Bispo deve ser pai e amigo. Que bonito! Aqui faço outra observação. O ministério do padre está intimamente ligado ao ministério do Bispo. Nós padres, devemos obediência e respeito a ele. A paróquia não é nossa, a paróquia é do Bispo. Nós, como párocos, somos (como diziam os Padres da Igreja) a “longa mão do Bispo”. Por isso acho muito estranho quando alguém diz: “Eu sou da paróquia do Padre Mauro”. A paróquia não é minha, antes é de Jesus, de Nossa Senhora da Escada e do Bispo. Ao Bispo compete ordenar o presbítero, dar-lhe provisão para as diversas funções, orientá-lo, promover seu crescimento espiritual e acadêmico, humano e ministerial.

Com relação aos leigos, o Bispo é convidado a animá-los para o exercício de seus dons e carismas. O “Christus Dominus” orienta-o a estar atento às necessidades espirituais de seu rebanho, e faz um apelo explícito aos bispos para que acolham as sugestões dos leigos e peçam a sua colaboração para atender as demandas pastorais e sociais na sua Diocese. Os leigos, igualmente, devem-lhe obediência e respeito.

O Documento, ainda, pede ao Bispo que esteja atento às necessidades de outras Dioceses, formando missionários para realidades mais carentes, sempre disposto a ajudar espiritual, pastoral e materialmente outras igrejas particulares.

Bem, como lhe disse, não pretendi fazer um tratado sobre o múnus episcopal, por isso sei que disse muito pouco deste lindo serviço na Igreja. Contudo, espero ter sido o suficiente para despertar em nós o carinho, a deferência, o respeito e a amizade filial que o nosso novo Bispo, Dom João, merece de todos nós, mas sobretudo despertar para a missão de todos rezarmos por ele.

Aproveito para agradecer em meu nome e em nome de nossa Paróquia a Dom Ercílio, por sua generosidade, paciência e carinho paternal e para dar as boas vindas a Dom João.

Seja bem vindo! Conte conosco!

Que Deus lhe abençoe!
Padre Mauro Ferreira